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28/02/2013

O Programa Karate Do entrevista o Sensei Kyoshi Benedito Nelson, 1° brasileiro graduado faixa Preta no ano de 1957, também conhecido como "Mão-de-Ferro", dedicou toda sua vida ao ensino do Karatê , porém suas habilidades não se resumem somente no Karate Shotokan, Kyoshi também é graduado em 4º Dan no estilo Goju-Ryu, 2º Dan em Judô entre  outros estilos além de exímio fabricante de espadas samurais

 

Programa Karate Do -  Kyoshi Benedito Nelson, haveria muita carência neste blog do Programa Karate-Do se não houvesse a oporrtunidade do público que nos acompanha conhe-lo melhor, sendo eu de certa forma ligado a Hien Kan, fundada pelo senhor, visto que sou aluno do Shihan Kung, do Bukaikan dojo, este que veio da Hien kan como o senhor sabe. Por vezes fico indignado por saber que embora todos que estão ligados ao Karate-Do e as artes marciais japonesas neste país de longa data conheçam seu nome, mas muitos da juventude atual são apenas ligados nos acontecimentos e nomes recente e no lado esportivo que visa um Karate que busca apenas pontuação, deixando de lado os seus ensinamentos sobre o Karate-Do real, ou seja, o de guerra.

 

Assim como também lamento a falta de reconhecimento mais evidente ao senhor e ao Karate-Do por parte do grande público, leigo pela falta de incentivo que ao longo dos anos o Karate não tem da mídia e na sociedade, fazendo assim que  o público desconheça nossa arte e principalmente o senhor que foi e é um grande homem e nome das artes marciais japonesas em especialmente do Karate-Do neste país. Diante disso e de sua história de vida dedicada a arte do Karate-Do de Okinawa, sendo o primeiro faixa preta brasileiro desta arte, como o senhor vê o Karate-Do no Brasil atualmente e o que pensa sobre o futuro dele?

 

Kyoshi Benedito Nelson - O Karate da década de 70 e 80 era dirigido pela CBK, as graduações eram outorgadas pelos professores mais antigos publicamente, assim como os campeonatos de kata e kumite sabíamos quem era realmente o campeão brasileiro de umas dessas categorias independente do seu estilo, que representava nosso país no exterior. Depois que apareceu a lei Zico que foi uma lastima para o karate, explodiu a federação e cada professor com seus alunos fizeram suas próprias regras, então se quisermos saber quem é o campeão brasileiro de kumite ou kata hoje em dia, seria impossível dentre as centenas que existem em suas próprias federações. Está atualmente em voga chamar mestres conhecidos do exterior pra dar cursos e exames, que nada mais é do que correções de movimentos simples e temas de exercícios novos. Com isso o karate como técnica de combate se esfacelou, se tornando apenas um esporte como outro qualquer pois,  sabemos que essas competições não representam 10 % do que seria o verdadeiro karate de combate. Então vemos por isto, que o futuro do karate esta nas mãos dos mestres que ensinam esta arte não objetivando campeonatos. Dos que eu conheço, não passa de dez no Brasil. Se enganam muito campeões que se tornam mestres iludidos por acharem que ganharam uma luta real, mas nada mais é do que alguns golpes que até a sua eficácia é duvidosa, pois não podemos atingir o oponente, e quando isso acontece a plateia se revolta assustada como se aquilo fosse um acidente grave e pecaminoso, mas para mim são esses momentos raros que vemos o que é o karate. Já aconteceu comigo de eu fazer parte da mesa examinadora para graduações de pessoas famosas em competições até a nível internacional, não sabiam katas em seu estilo além daquele que decorou para o exame e assim mesmo mal feito, o qual me envergonho de ter participado desse exame. Como eu gosto de demonstrar ao público o que está acontecendo eu colocava um campeão famoso diante de um faixa marrom desconhecido e falava para o faixa marrom " Se você ganhar dele você já passou de grau", claro que eu escolhia os melhores faixas marrom, e nunca me decepcionaram pois não valiam pontos e sim definição, isso quer dizer, que ao embolarem ou caírem sempre deixei a luta continuar para ver o resultado. E por outro lado para mim era completamente indiferente pontos de competição. As federações pararam de me chamar para participar da banca, pois ficavam decepcionados com o resultado. Detalhe, tem outros professores que pensam igual a mim aqui no Brasil e no exterior.

 

 

Programa Karate Do - Kyoshi, o senhor ficou conhecido de maneira nacional e quem sabe até internacional como Benedito o "Mão de Ferro".A que se deve exatamente este apelido tão forte e marcante?

 

Kyoshi Benedito Nelson - Olhe em minha Home-page: www.beneditonelson.com.br ou no meu facebook "Benedito Nelson"

 

 

Programa Karate Do -  Kyoshi Benedito Nelson,não poderiamos deixar de fazer uma pergunta importante e ao mesmo tempo polêmica para o brasileiro que mais conhece o Karate-Do neste país que é o senhor e até porque o senhor é profissional não apenas do Karate mas também do Judô, Jiu Jitsu, entre outras artes. Por tanto o senhor que vem da velha guarda do Karate-Do aqui no Brasil e conheceu a história das artes marciais neste país tendo acompanhado e observado não só a chegada de diversas artes japonesas,chinesas e coreanas como os seus respectivos desenvolvimentos e inclusive o da família Gracie, ,pode nos responder esta pergunta. Desde o primeiro UFC1 onde Royce Gracie desafiou outras artes marciais nos E.U.A. e venceu que de lá pra cá a opinião pública a respeito das artes marciais mudou e o Jiu Jitsu ficou sendo visto durante muito tempo, como uma arte superior as outras e principalmente superior as artes que lutam mais pé e enfatizam os atemi-waza como o nosso Karate por exemplo. Hoje vemos que no ambiente do MMA há quase que uma obrigatoriedade de se saber Jiu Jitsu,ao meu ver nenhum dos que lutaram naquela época em 1993 contra Royce Gracie, sabia seriamente uma arte marcial e estavam  vindo de um ritimo esportivo, resultando num nível muito maior de Royce Gracie perante os adversários pois,nenhum dos lutadores conhecia o Jiu Jitsu que enfatiza o ne-waza como o da família Gracie. Uma vez que o senhor e outros veteranos do Karate-Do já sabiam também Jiu Jitsu, houve alguma evolução no universo das artes marciais pelo fato dos lutadores hoje no MMA saberem lutar em pé e no chão ou só o público leigo pensa assim por desconhecer como eram as coisas no universo das artes marciais no passado?

 

Kyoshi Benedito Nelson -  É um grande engano achar que o que vocês vêem nessas lutas se chame Jiu-Jitsu, este foi um apelido dado a luta de solo. Todos os golpes do "Jiu Jitsu" tem no Judô, além de a luta em pé ter mais de 80% de golpes que ninguém usa ainda no MMA. Chamamos de Tate-Waza, projeções e Ne-Waza, luta de solo. Vencer quem desconhece a luta agarrado é fácil, agora se a pessoa está treinada e tem um tempo para ser vencida, é algo bem diferente, chama-se técnica. Na realidade quando uma pessoa passa de alguns minutos no solo, que já cheguei a ver ter horas, vence o que tiver melhor fôlego e não maior técnica. Vemos que é impossível qualquer lutador que não treine Judô por anos a fio vencer um campeonato de Judô que se define  em 5 minutos e no solo alguns segundos numa competição onde existem mais de duzentos representantes em todo o mundo. Por esse motivo não há necessidade de desafio no boxe como no Judô, pois as regras nos mostram quem ganhou incontestavelmente, sem nenhuma duvida este é o campeão. Digo isso porque sou graduado nas academias ONO, 2º grau, como também na CBJ. No MMA existem bons e valentes competidores, mas a vitória entre eles quase sempre é acidental e não técnica.

 

 

Programa Karate Do - Quantas artes marciais ao longo da sua jornada em busca do caminho samurai o senhor estudou?

 

Kyoshi Benedito Nelson - Capoeira: Mestre Arthur Emidio - Capoeira regional; Irmãos Caissara - Capoeira Angola; Jiu-Jitsu sem kimono ou podemos chamar luta livre -Moacir Luzia Vale; Jiu Jitsu e Judô com kimono - Academias ONO Professor Seizi Ranilda; Kobudo, Karate Goju-ryu - Professor Shikan Akamine; Karate Shotokan - Jyuichi Sagara

 

 

Programa Karate Do - Como foi a experiência de treinar no Japão?

 

 

Sensei Kyoshi Benedito e Sensei Kanazawa.

Kyoshi Benedito Nelson - Chegando no Japão na década de 80, fui direto para Ebisso, Tókio, na NKK(Nihon Karate Kyokai). Como lá não havia hospedaria, me alojei no kodokan de judô, e treinava lá todos os dias 19h. 7:30 eu treinava Karate, até 9:30. Gostei do sistema de aulas que administravam, pois cada dia era um professor diferente, como Kanazawa, Tanaka, Osaka, Tabata, Kawada e outros. O treinamento era intensivo e pesado. Quando havia jiu-comitê, todos  presentes lutavam, trocando de adversário, inclusive os professores. Nesse horário só havia preta e alguns marrons. O grau dos faixas pretas não era nada superior dos brasileiros, tanto no conhecimento, quanto na luta, e durante os jiu kumite que eu fazia notei muita facilidade, só havendo dificuldade de luta com os professores acima citados. Fui visitar a academia do Mestre Konishi, homem muito educado e respeitado por todos. Não pude treinar lá por estar treinando na NKK. Teria que escolher uma das duas. O prof Nakayama, notei que tratava com desdem os ocidentais, e também só indicava para representar o karate no mundo, japoneses, muito diferente do mestre Kanazawa, que era simples humilde e atencioso, me cativando imediatamente durante uma aula que tive com ele. Por esse motivo, quando Kanazawa  se separou da NKK, fundando a SKIF, fiquei com ele. Nesse primeiro contato é que eu trouxe o Mestre Kanazawa para o Brasil, junto com Teruo Furusho, irmãos Korrara, professor Penha e outros, quer dizer,um grupo de 10 pessoas. Esta minha ida para o Japão, levei comigo e servi de tradutor, meu amigo Joaquim Mamed, que se tornou presidente da confederação brasileira de judô. Trouxemos para o Brasil um professor de Judô, campeão japonês, Yshitaka Yamamoto e posso afirmar que após isso é que o judô brasileiro se despontou a nível internacional, sem dúvidas. Nos treinamentos de Judô que eu fazia a noite eu chegava ao dojô do kodokan 30 minutos antes de terminar a aula, pois a primeira vez que treinei às 2h a noite, não aguentei o treino de karate no dia seguinte de manhã, então escolhi o karate. Conheci no Japão, dentro do Kodokan, o mestre Kimura, já um senhor de idade, que gostou muito de mim, se tornando meu amigo, por eu falar japonês, e  me corrigiu dois golpes (tomoinague e taiutoshi com combinações). Achei uma coisa muito interessante, pois me apresentaram a ele na rua e ele me convidou para ir para o Kodokan, mesmo eu sabendo que ele estava expulso dessa organização. Ao passarmos na secretaria, todos  o comprimentavam com reverencia, e quando entramos no dojô central, nós estavamos sem kimono, todos pararam de lutar, uns 30 pares de graduados, e se ajoelhando, ficaram em nossa direção. Nesse momento senti o forte respeito que eles têm pelos seus mestres. Ele agia naturalmente, falando comigo, mostrando as dependências, como se o dojô fosse dele. Só reiniciaram quando saímos do salão. Notei também no Japão q o karate  kyokoshinkai era muito conhecido por todos, mas não era considerado karate, e sim briga de rua.

Detalhe: eu usava dois kimonos de karate, pois não secavam de um dia para o outro. Nessa época eu era 2o grau.

 

 

Programa Karate Do - Kyoshi, tive algumas oportunidades de ver alguns dos seus aulões aqui no Rio de Janeiro e o senhor sempre cita algumas passagens de treinos ou comentários do senhor com o meu Shihan Kung. De tantos alunos que o senhor teve e tem o Shihan Kung seu discípulo seria a pessoa com quem mais o senhor treinou?

 

Kyoshi Benedito Nelson - Conheci o Kung na escola de especialista da aeronautica em Guaratinguetá, onde eu treinava, tendo como melhor aluno meu, Lacerda  e Teruo Furushô. Chegando ao RJ, abri uma academia na rua Hadoque Lobo, junto com Furushô. Depois mudamos para Barão de Ubá, fundando a Hien Kan. Nessa época eu dava aula na ilha do governador e possuia dois excelentes alunos, Wagner e Walter, como também dava aula na aeronáutica na praia do cajú, no NUPEL, onde o Kung  treinava diariamente ao meu lado. No aquecimento, fazíamos diariamente o percurso de 5km antes de iniciar o Karate, que durava aproximadamente 1:30h na parte da manhã. Como o treinamento era intensivo, e o Kung estava sempre ao meu lado, também  treinava o mesmo tempo que eu, incluindo no makiwara. Muitas vezes ele me acompanhava a noite no Rio Cumprido, onde eu dava aula na Hien Kan, onde havia um aluno também de excelente grau, chamado Eurico de Oliveiro Santos. Os dois, rapidamente, tornaram os meus melhores alunos daquela época. Ao me separar do Furushô, tive um aluno que chegou a um nível excelente também, chamado Cezar Valaperde, e outros alunos de bom nível, como Wagner Carrilho e Werde Filza. Não podemos também esquecer dos irmãos Lobão e outros. Durante minha estadia no NUPEL o Kung se destacou mais na transferência que tivemos para o quartel na ilha do governador, e o treino também era diário. Ele foi o aluno da época que mais pude ensinar as técnicas de combate.

 

 

Programa Karate Do - Kyoshi Benedito Nelson muitos desconhecem dentro e fora do Karate-Do que a arte possui além dos Atemi-Waza e Nague-Waza também possui Ne-Waza. A que se deve esse desconhecimento,seria por causa da esportização da arte?

 

Kyoshi Benedito Nelson - Não devemos confundir os termos utilizados pelo Judô, pois as projeções de Karate não podem ser treinadas jogando várias vezes a pessoa ao solo, pois causariam ferimentos, mesmo sendo no tatame, pois na sua maioria têm golpes traumatizantes, além de torções nos braços e pernas. Quando se tem a necessidade de agarrar ou ir mesmo ao solo, o objetivo principal é dar pancadas ao se desvencilhar, ao qual chamo de kumiuchi. O motivo destas  técnicas serem quase desconhecidas em seu uso estão nos movimentos de kata, tanto Goju Ryu e Shotokan . Atualmente, não vejo em nenhum praticante, ter interesse nessas técnicas, pois a maioria treina visando o campeonato, onde não é usado. Para que essas técnicas apareçam é necessário não parar a luta quando os lutadores se embolam.

 

 

Programa Karate Do - Como o senhor teve a oportunidade de aprender a fazer espadas japonesas?

 

Kyoshi Benedito Nelson - Sempre gostei muito de saber da vida dos samurais, desde a minha idade de 12 anos, quando eu assistia filmes  no bairro da liberdade em São Paulo. Um dia, passando em um antiquário japonês, vi pela primeira vez uma espada japonesa antiga. Qual foi minha decepção ao saber que meu salário não dava para compra-la. Após isso, um dia, eu na casa de um japonês, no Rio de Janeiro, Sr. Matsui me mostrou uma espada q ele havia feito com uma mola de carro. Fiquei maravilhado ao pega-la, e lhe propus uma troca. Propus a troca por um revolver que eu tinha e ele imediatamente aceitou. Em outro dia, ao levar o revolve para troca, sua família não deixou fazer a troca pois, seu pai, pelo Sr Matsui ter demorado anos para completa-la. Fiquei decepcionado novamente e lhe dei o revolver, sem exigir nada em troca. Neste momento decidi fazer uma, pois além de ser chefe de mecânica, sou também ferramenteiro. Em pouco tempo, meses, fiz uma e a levei para casa do sr Matsui. Ao ver a minha espada, ele, olhando a espada disse: "que bonita, mas nem a minha ou a sua são japonesas, pois para serem japonesas precisam ter tempera na lâmina", o qual me mostrou algumas fotografias. Desse processo até eu conseguir fazer uma lâmina legitima foi um japonês em SP que me ensinou a temperá-las e fazer o aço, Kuniu Oda, no Bairro da Liberdade. Ao conseguir temperar a primeira espada, depois de umas 50 tentativas tentando tempera-las com um amigo chamado Israel, o qual desistiu. Soube de um  outro professor de esgrima, o qual fazia espadas, no interior de Suzano - SP, chamado Souske Oura, o qual me ensinou a dar acabamento com pedras e assinar a lâmina corretamente. Atualmente, fiz mais de 500 espadas perfeitas, até hoje, e continuo forjando.

 

 

Programa Karate Do - Kyoshi já li que o senhor aprendeu Yawara é verdade?

 

Kyoshi Benedito Nelson - Conheci um mestre de Yawara e trocamos uns papos, somente isto.

 

 

Programa Karate Do - Kyoshi Benedito Nelson muito obrigado pela honra da entrevista concedida. Agradeço em nome do blog do programa Karate-Do e em meu nome como indiretamente seu aluno também.Foi uma grande honra poder fazer tal entrevista.Tenho certeza  de que as perguntas formuladas e feitas ao senhor por mim serviram para que o senhor respondesse não só a mim ou ao blog do programa Karate-Do como também a muitos profissionais e estudantes de Karate-Do que treinam o verdadeiro Karate-Do e o admiram como um dois maiores nomes nacionais desta arte no nosso país. Oss!

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