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Karate-Do vs Boxe

Oss!

Comumente percebo uma determinada crença que cresceu dos anos noventa para a atualidade referente a uma determinada mentalidade sobre uma suposta superioridade do sistema do Boxe, diante de qualquer arte marcial oriental que possua sua típica metodologia de socar, se defender e usar o corpo geralmente vista nos kata do Karate e em outras artes marciais.

Falar da metodologia do uso do corpo no Karate, automaticamente é falar da metodologia asiática criada e desenvolvida por lá de um modo geral que vemos inicialmente nos estilos de Wushu(Artes marciais chinesas) os quais chamamos vulgarmente de Kung-Fu(habilidade) que assim como o Karate se divide em estilos, assim como é estar falando do Tae Kwon Do que também tem suas raízes japonesas e chinesas etc.

 Poderia citar o próprio Muay Thai com o que sabemos hoje ou seja, da existência do Muay Boran que por sua vez, também não socava necessariamente como o Boxe e com isso, caso não tivesse se envolvido tanto com o Boxe no ocidente, talvez iria encarar a mesma onda de preconceito que o Karate sofre ainda.

Esse texto não se trata como nenhum dos meus outros textos trataram, de rebaixar uma arte de lutar e exaltar a outra, mas sim se trata de um texto de reflexão como é a base de todo o meu trabalho, para entendermos não só treinando, mas meditando sobre a prática da arte que praticamos, ou seja, o Karate-Do, diante das dificuldades que temos como ocidentais na prática e entendimento dele, pois isso sinto que faz parte da caminhada do adepto do Karate desde sempre, ou seja, as dúvidas, mas que jamais tais detalhes da prática e estudo do Karate foram discutidos desta maneira clara sem necessariamente qualquer tom preconceituoso até mesmo por parte dos próprios adeptos do Karate ao crerem que ele é difícil e que só os japoneses ou okinawanos o entendem bem como se fossemos incapazes de chegarmos as mesmas conclusões, maturidade na prática desta arte marcial, assim como competência na mesma.

Há a necessidade de esclarecer um ponto em comum em todas as artes marciais e que pouco é difundido pelos profissionais em virtude do interesse financeiro de propagar remuneradamente o Karate e artes marciais de um modo geral, que é a realidade de que, ou você aprende verdadeiramente o Karate-Do ou não aprende. Posso seguramente lhe ensinar os movimentos e sequências seguindo o padrão do estilo e escola a qual sou ligado assim como passar detalhes pessoais do Shotokan os quais fazem a diferença dentro de uma ótica do uso desse estilo de modo universal como o tenho mostrado nos meus vídeos e lives no Instagram, mas daí a você verdadeiramente entender e incorporar no seu corpo com naturalidade por ter alcançado real entendimento do uso do seu corpo com tais técnicas passando então o Karate a ser a sua forma natural sua de autodefesa, isso é outra história!

É aí que entra a verdade dita por um grande mestre de Kung Fu o já falecido Sifu Moy Yat de Wing Chun, quando disse que “ninguém aprende ou ensina Kung Fu” e isso é a realidade. De fato se você só aprende padrões e sequências, por mais que domine aquilo tudo e se desenvolva bem com aqueles movimentos, se não houver naturalidade, auto expressão e real fluidez em ação com a arte no seu corpo chegando sim ao ponto de uma identidade própria na prática do seu Karate como exemplificaram Hirokazu Kanazawa Sensei e Tetsuhiko Asai Sensei que ambos eram fluidos, mas totalmente diferentes em execução das técnicas no mesmo estilo, ou seja o Shotokan Ryu, amanhã ou depois você pode cair.

E posso seguramente afirmar que é justamente essa falta de real entendimento e naturalidade na execução do Karate por parte da maioria dos praticantes, que tem sido a ruína da mesma diante de lutadores mais soltos e com mais pleno domínio do que praticam como vemos os boxeadores serem em ação.

Até mesmo Royce Gracie disse que pode ensinar o Jiu Jitsu dele para alguém ou seja, a movimentação e técnicas da arte, mas que não pode passar exatamente o modo de uso, as características e conclusões na prática que fluem na mente e corpo dele durante o uso das técnicas dele pessoais para a pessoa, pois ele também como um mestre de Jiu Jitsu que é, chegou a conclusão de que existe a expressão pessoal de cada um e é isso que traduz o uso de qualquer arte marcial de maneira inteligente e que trás não só a vitória em lutas, como a verdadeira compreensão honesta dela em ação. Só é uma pena que venda sua arte como a melhor como um marketing da família, pois uma melhor arte não existe, mas sim esse tal entendimento que abordo neste tema.

Sem uma análise mais aprofundada do que estudamos e todos os seus detalhes, não poderemos amadurecer na prática do Karate-Do e nessa caminhada introspectiva rumo ao entendimento do que praticamos. Se faz necessário entender o andamento das coisas para que entendamos os fracassos de determinados adeptos de Karate diante de boxeadores etc.

Isso faz parte do crescimento como adeptos de Karate que somos. Falo a respeito de aceitarmos que assim como em todos os casos de todos os sistemas orientais clássicos que se fecharam em suas próprias metodologias se acostumando apenas em defender-se e atacar dentro do próprio sistema perdendo determinado contato com a naturalidade de ação e reação do combate urbano e real, o mesmo ocorreu com muitos adeptos do Karate que em si, também sempre foi envolto da mesma mística do Kung Fu e seus mistérios propositalmente mantidos por muitos mestres orientais que se valiam disso, para nos manter longe da compreensão da arte.

Sem contar com a realidade que temos no Brasil que é a divisão entre um Karate  baseado em pancadaria como o tradicional ao modo antigo , o Karate esportivo que possui o foco na marcação de pontos que por sua vez, faz com que muitos foquem mais na rapidez de movimentação do que em ter golpes contundentes, assim como existe um Karate-Do que todos sempre sonharam em saber e executar que é o Karate mais refinado o qual é o alvo da maioria dos adeptos que buscam esta arte marcial quando se interessam por ela, mas que na maioria das vezes, não conseguem atingir tal maturidade e nível de intelectualização do sistema em ação só visto em grandes mestres como novamente e sempre cito, Hirokazu Kanazawa Sensei e Tetsuhiko Asai Asai Sensei e alguns outros.

 

 

Obviamente a problemática da mistificação na arte não se emprega a todos os mestres japoneses residentes lá ou aos que vieram ensinar no Brasil, mas foi um fato durante muitos anos e que talvez o mundo globalizado que vivemos hoje, não permita tanto que isso ocorra. Hoje podemos somar os estudos de Karate-Do que recebemos dos nossos Sensei, a boas pesquisas tendo acesso na atualidade a livros e vídeos que somam no estudo do adepto. Ao falarmos isso, logo alguma mente preconceituosa, maldosa ou precipitada, imagina que neste momento eu esteja incentivando as pessoas a estudarem unicamente na internet e ainda podem pensar maldosamente que nisso se resume o meu próprio caso, quero dizer, que eu estudaria apenas aqui na internet, mas não  é nada disso.

Assim como tive formalmente um mestre de Karate, ainda nos tempos em que eu estava ao lado dele, embora ainda esteja sempre ao lado dele ainda que não fisicamente em seu Dojo, eu já estudava em casa o que ele me ensinava em aula e fazia minhas pesquisas. É a isso que me refiro quando incentivo o indivíduo a ter a mente aberta. Só através de tal estudo e cada vez mais compreensão do Karate, podemos atingir uma naturalidade e autoconfiança em execução, como vemos nos boxeadores.

Os boxeadores se jogam na hora da luta e no sistema que praticam com tal confiança porque sabem o que estão fazendo ainda que apenas com alguns socos e suas esquivas sem uso do cotovelo, joelhos, pés dando chutes, quedas, torções ou qualquer coisa, mas com conhecimento do sistema que possuem em mãos sem a preocupação com beleza ou estética.

No Karate-Do vemos ainda muita necessidade de correções em vários aspectos técnicos de muitos de nós faixas pretas e isso não é um problema, pois desde o primeiro dia de aula de Karate, sabemos que passaremos a vida inteira aprendendo esta arte buscando uma compreensão e aperfeiçoamento, mas quando os erros técnicos são grosseiros e a insegurança diante do adepto de outras arte como o Boxe por exemplo ocorre, isso significa que a deficiência técnica ou emocional precisa de uma atenção maior.

Já ouvi de tudo! Existem variados casos de adeptos de todas as artes marciais que apresentam falhas e qualidades dependendo de circunstâncias. Já ouvi caso de professor que tem aluno que rende bem no Dojo, mas não no campeonato. Tem aquele que não rende no Dojo, mas parece que acorda para a arte no campeonato e faz bonito assim como existem os bons só de kata que não possuem a mesma busca e preocupação em saber lutar tão bem quanto busca ser bom na execução dos kata!

E isso ocorre muito dentro do Karate japonês o qual praticamos e é lamentável? Não, mas sim o que é de se lamentar é a falta de atenção nesses detalhes, pois uma coisa é o indivíduo ser bom na execução e compreensão dos kata, mas buscar o mesmo na prática e compreensão do kumite e aplicação dos kata em Kumite e outra bem diferente é o indivíduo parar por ali satisfeito em ser um representante do seu Dojo apenas mostrando belos movimentos os quais não sabe usar bem num kumite.

Sim, são palavras duras às quais eu sempre dirigi primeiramente a mim e me cobrei e acho que todos devem se cobrar isso também, ou seja, temos que ser tão bons em kumite quanto buscamos executar bem os kata para impressionar leigos. Temos que compreender a execução dessa movimentação em ação nos libertando de qualquer limitação que as técnicas que são mais exploradas no karate de competição trazem para os adeptos da arte!

Certamente aquele que inicialmente não é bom em kumite diante de alguns naturalmente bons na arte de lutar, pode vir a se igualar no combate a esses ou até supera-los, mas precisa trabalhar calcado nos estudos para obter a compreensão das técnicas e se valer desse conhecimento para ter a certeza da auto defesa bem estruturada para menos possível ser atingido pelo mais forte, assim como para ter ataques precisos e fulminantes. Mas precisa se convencer de que provavelmente também será atingido na luta e portanto precisa qualificar mente e corpo para tal realidade, pois não podemos achar que só bateremos no adversário.

 

 

Então o indivíduo por mais que treine pra se proteger, precisa sim da prática do contato físico para espantar toda e qualquer receio de ser atingido, pois é isso que trava adeptos de grandes artes marciais e faz com que batam e se defendam de qualquer jeito não exemplificando o sistema ou estilo que representa a rigor com as suas originais propostas e características.  

E é por lidarem com todo esse quadro nos ginásios de Boxe que obrigatoriamente precisam lidar, pois só evoluem lutando e não se preocupando com tantos detalhes e até com beleza dos movimentos, que vemos exatamente essa certeza e fé na técnica que possuem e que também possuem em si mesmos, claramente nos boxeadores.

Eles não tem que se preocupar com o domínio de tantas bases, posturas e tantas técnicas combinadas entre si para ter tal confiança. Enquanto temos que passar por tudo isso e muitos por não conseguir acabam parando no caminho, eles em poucos meses de treino um adepto do Boxe começa a dar frutos em lutas.

Portanto não há uma técnica ou arte melhor que a outra e não seria o Boxe melhor que o Karate e nem o contrário. Obviamente o Karate seria sim mais completo no uso como armas, do corpo inteiro, pois usamos desde os dedos dos pés até a cabeça, mas nada disso importa se não houver verdadeiro domínio e conhecimento do que estamos fazendo assim como se não houver uma naturalidade do uso dos movimentos no Karate em ação e estratégias de acordo com o adversário que estiver na nossa frente como vemos por parte dos Boxeadores, a vitória não virá.

Talvez a falta de clareza sem meditações a respeito desse tema e a falta desse tipo de raciocínio por parte dos próprios adeptos do Karate-Do somados a falta de mais atenção com o tema entre tantos detalhes envolvidos na hora de uma avaliação dos leigos e próprios adeptos do Karate, baseada em resultados de lutas que karatecas fracassam, sejam os maiores responsáveis pelo triste tipo de avaliação que vemos reinar no ocidente principalmente, do que seja superior ou inferior, funcional ou não em realidade entre essas duas artes e sistemas de lutar.

Para mim não interessa ver lutas no YouTube entre artes marciais, pois ali só postam os mesmos resultados, não há avaliação do contexto de modo imparcial, mas sim são feitas tais avaliações de modo tendencioso e com um peso de um preconceito com as metodologias orientais como se o modo ocidental de enxergar e treinar a arte do combate físico, fosse mais eficiente do que o modo e metodologia oriental. Com isso julgam  as artes orientais e seus métodos como se fossem inferiores e que séculos de tradições as quais diga-se de passagem cooperaram e muito para a evolução do ocidental na compreensão da arte do combate físico por terem para cá vindo, fossem meras técnicas ineficientes para situações reais e que teriam sido superadas. Quando em realidade após tais reflexões e elucidações as quais eu trouxe sobre a problemática existente na construção da verdadeira compreensão do Karate-Do  para estudarmos, nos mostra outra realidade não havendo aí, nenhuma superioridade ou inferioridade técnica nem de um lado e nem do outro.

Acreditem no poder do Karate-Do Shotokan Ryu em ação! Mas busquem entender profundamente cada movimento e visualiza-los em ação real!

Oss!

Sensei Allan Franklin

Na foto abaixo fica clara a versatilidade do Karate-Do Shotokan Ryu que pode facilmente se adaptar a atacantes diferentes que atacam bastante a cabeça. Diante disso, podemos em luta, levantar o Kamae usando  como na foto Nagashi-uke ou mesmo Mae-ude hineri-Uke ou Haiwan haishu-uke.

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